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Cinco Séculos de Engenho Estético e Interacções Culturais do Congo a Serem Explorados em Exposição Histórica no Museu Metropolitano a Partir de Setembro

Kongo: Power and Majesty

Datas da exposição: De 18 de Setembro de 2015 a 3 de Janeiro de 2016
Local da exposição: Galeria de Exposições Especiais, primeiro andar, Galeria 199
Antevisão para a imprensa: Segunda-feira, 16 de Setembro, 10:00-12:00

Sendo uma apresentação histórica que irá redefinir radicalmente a nossa compreensão do relacionamento de África com o Ocidente, a exposição Kongo: Power and Majesty (Congo: Poder e Majestade), a ser inaugurada no Museu Metropolitano de Arte (The Metropolitan Museum of Art) em Setembro, irá focar-se numa das tradições artísticas mais influentes do continente africano, desde o primeiro momento de interacção directa entre líderes africanos e europeus no final do século XV até ao início do século XX. A produção criativa dos artistas do Congo da África Central será representada por 146 obras provenientes de mais de 50 colecções institucionais e privadas de toda a Europa e dos Estados Unidos, reflectindo quinhentos anos de encontros e relações em constante mutação entre os líderes europeus e do Congo. Desde um grupo dinâmico de 15 monumentais figuras de poder até marfins esculpidos elegantemente e têxteis tecidos com mestria, a exposição irá explorar como os talentos dos artistas mais dotados da África Central foram direccionados no sentido de articularem um vernáculo de poder culturalmente distinto.

A realização desta exposição foi possível graças ao Fundo Gail e Parker Gilbert e ao Fundo Diane W. e James E. Burke.
 
A história da arte centro-africana foi narrada até agora com um foco no século XIX. Esta exposição irá abranger um período mais alargado, demonstrando que a grande sofisticação e o espectro alargado da expressão artística do Congo foram contínuas, desde a altura das primeiras incursões dos europeus ao longo da costa até ao período colonial.

"A electrizante figura de poder do Mangaaka, adquirida pelo Museu Metropolitano em 2008, foi a inspiração para esta exposição", afirmou Alisa LaGamma, a curadora da Fundação Ceil e Michael E. Pulitzer responsável pelo Departamento das Artes de África, da Oceânia e das Américas. "Tendo estado em exibição nas nossas galerias durante os últimos sete anos, este símbolo icónico de lei e ordem tem sido objecto de fascínio universal, pelo que decidimos investigar mais aprofundadamente a história e as circunstâncias da respectiva criação. Ao explorar a interacção cultural do Congo com o mundo exterior que teve lugar durante vários séculos e o espectro total da estética do Congo, a nossa pesquisa conduziu a novas descobertas e a esta oportunidade sem precedentes para a abrangência total do engenho dos artistas poder ser admirada no âmbito de vários géneros."

Detentores de poder europeus e artes de luxo do Congo

Praticamente uma década antes de Cristóvão Colombo descobrir o Novo Mundo, o explorador português Diogo Cão desembarcou na costa da actual Angola. Este ponto de viragem na história mundial originou intercâmbios significativos de cultura material através do Atlântico. Diogo Cão comemorou a sua chegada em 1483 enquanto emissário do Rei João II de Portugal, ao assinalar o local com um monumento em calcário que tinha sido esculpido em Lisboa. Esse marco em calcário irá agora assinalar a entrada dos visitantes na exposição Kongo: Power and Majesty.

Entre os artefactos africanos mais antigos preservados no Ocidente, encontram-se itens de prestígio criados por artistas do Congo que eram activos numa série de regimes distintos posicionados ao longo de uma região que abrange o que é, actualmente, a parte norte da República do Congo, Angola e a parte sul da República Democrática do Congo. Para além do célebre estado conhecido como o Congo, a exposição considera também os seus vizinhos regionais culturalmente associados, mas menos conhecidos, como, por exemplo, o Reino de Loango. A elite do Reino de Loango adoptou a literacia desde o primeiro momento de contacto e a sobrevivência dos seus escritos sobre assuntos religiosos e políticos distingue o reino dos outros estados, tornando-o um dos estados africanos pré-coloniais melhor documentado. Neste âmbito, a exposição inclui missivas dos séculos XVI e XVII dos soberanos do Congo para os seus homólogos europeus, proporcionando uma perspectiva africana crítica sobre os eventos mundiais.

Do mesmo período (e sendo um ponto crucial da exposição Kongo: Power and Majesty), podemos igualmente encontrar as criações de artistas regionais que eram estimadas pela sua execução sofisticada e pela utilização de materiais refinados. Estes marfins exóticos inscritos com desenhos geométricos delicados e têxteis de fibra de ráfia adornados com motivos abstractos associados foram adicionados às colecções de príncipes europeus e de mercadores abastados desde o século XVI até ao século XVIII. A maioria destas peças, incluindo uma série de olifantes de marfim que se crê terem sido incorporados nas colecções dos Medici durante a altura de Giovanni de’ Medici (1475-1521) (Papa Leão X), aparenta ter sido enviada por líderes do Congo como presentes diplomáticos. Este corpus pré-colonial pouco conhecido do Congo nunca foi apresentado numa exposição. Com vista a colmatar esta lacuna, a exposição Kongo: Power and Majesty irá exibir uma massa crítica destas obras requintadas e raramente apresentadas que se encontram dispersas por todo o mundo. Entre as célebres e prestigiadas colecções históricas que cederam peças para a exposição incluem-se o Gabinete de Curiosidades de Frederico III (Copenhaga), o Gabinete de Curiosidades de Württemberg (Estugarda), as colecções do Castelo de Praga do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico Rodolfo II, o Gabinete de Curiosidades Real do Rei Frederico III da Dinamarca (Copenhaga) e a Colecção Real da Rainha Cristina da Suécia (Estocolmo).

Pela primeira vez, as obras-primas do Congo darão vida a um capítulo crítico da história centro-africana que precede o colonialismo em cerca de 400 anos. Estas antigas criações do Congo atestam a excepcional complexidade da arte do Congo antes do contacto com a Europa, bem como a forma como os seus praticantes mais talentosos adoptaram imediatamente o subsequente influxo de ideias introduzidas a partir do exterior.

Receptáculos de poder na sociedade do Congo: os nkisi

A forma seminal de expressão associada à arte africana é a da figura de poder, ou nkisi (pl. minkisi). No ocidente, estas obras são invariavelmente consideradas em termos genéricos, mas a exposição Kongo: Power and Majesty irá explorar alguns dos contextos históricos específicos que conduziram ao desenvolvimento destas peças complexas. Na sequência da respectiva adopção do cristianismo em 1491, Nzinga a Nkuwu, o soberano do Congo, ordenou a destruição de todos os ídolos locais, ou minkisi, no seu reino. Simultaneamente, o mesmo e sucessivas gerações de reis do Congo solicitaram que fossem enviados artefactos de devoção cristãos da Europa. A exposição incluirá exemplos de obras cristãs do Congo que foram inicialmente produzidas a partir destes protótipos, bem como obras que acabam por reinterpretar Cristo de acordo com a estética do Congo. Fora de M’Banza Congo, a capital do Congo, o cristianismo era menos influente e a criação de minkisi continuou a representar uma dimensão significativa da vida devota da região. Embora um padre jesuíta português tenha supostamente queimado alguns "fetiches" e enviado outros para Portugal em 1631, não se conhecem exemplares de minkisi preservados no Ocidente antes da segunda metade do século XIX, quando foram reunidas imensas obras através de redes coloniais europeias. Nas últimas décadas, o trabalho de especialistas em religião e antropologia do Congo definiu o nkisi como um altar portátil concebido para alojar uma força espiritual. Entre as importantes questões abordadas na exposição Kongo: Power and Majesty encontram-se os motivos pelos quais não existem exemplares desta tradição preservados no Ocidente antes do movimento colonial, as contribuições de um escultor e de um padre do Congo para a reunião destas criações e as intervenções deliberadas que alteraram o estado de determinados minkisi antes de estes serem disponibilizados ao mundo exterior.

Principais atributos de poder do Congo

A arte do Congo está associada à estética intimidante e agressiva das esculturas dos minkisi representando sujeitos masculinos crivados de objectos. No entanto, estas obras destinavam-se a ser vivenciadas como parte de um espectro muito mais abrangente de representações associadas ao poder e à liderança na sociedade do Congo. O papel protector e regenerador das mulheres é uma metáfora visual igualmente proeminente relativamente à definição do poder do Congo. A exposição Kongo: Power and Majesty irá apresentar toda a gama de formas que enquadravam a pessoa de um líder do Congo, desde os distintivos trajes reais regionais de capas de fibra entrelaçada e chapéus adornados com garras de leopardo, até aos bastões de poder com remates de miniaturas de marfim elegantemente esculpidas e às figuras femininas sentadas esculpidas em madeira que eram colocadas em altares por cima da última morada de um chefe do Congo.

Mãos de mestres do Congo

Os artistas mais dotados da sociedade do Congo eram muito procurados por mecenas que necessitam dos respectivos talentos para a produção de uma vasta gama de formas de expressão. Embora a identidade dos escultores individuais não tenha sido documentada, as respectivas façanhas são conhecidas através do registo artístico sobrevivente da sua produção criativa que foi preservado em colecções ocidentais. Ao longo da última geração, o trabalho de historiadores de arte tornou evidente as qualidades estéticas e os estilos de escultura associados a vários ateliers distintos. Estes foram identificados de acordo com os locais associados às respectivas criações. As obras apresentadas na exposição Kongo: Power and Majesty irão reunir pela primeira vez a maioria dos trabalhos produzidos por três dos mestres escultores mais talentosos da África Central: o Mestre de Kasadi, o Mestre de Makaya Vista e o Mestre de Boma Vonde.

A derradeira manifestação da lei e ordem: o Mangaaka

Um dos catalisadores desta exposição consiste num grande marco do Congo que tem sido uma peça central da colecção do Museu Metropolitano de Arte desde 2008. Esta escultura maciça de um formidável líder do Congo inclina-se para a frente, confrontando o visitante com as mãos nas ancas e exibindo simultaneamente uma presença fisicamente dominante e profundamente reflexiva. A figura esculpida em madeira foi concebida como o receptáculo nkisi de uma força imaterial conhecida como o Mangaaka, invocada ao longo da respectiva utilização através dos objectos adicionados ao seu exterior pelos peticionários. Ao longo dos últimos sete anos, esta obra tem sido sujeita a uma análise e um estudo aprofundados relativamente a exemplos comparativos por parte de historiadores de arte, restauradores e cientistas. O debate sobre estas descobertas com uma rede internacional de especialistas interdisciplinares em museus e universidades tem contribuído para uma apreciação mais abrangente e expansiva do significado desta façanha escultural excepcional.

Durante a segunda metade do século XIX, foi desenvolvido um número sem precedentes de minkisi ao longo da costa em resposta às incursões dos comerciantes coloniais no interior e às preocupações sociais associadas.

O Mangaaka, o "rei e senhor" incontestado entre estes, era a personificação de uma força abstracta responsável pela arbitragem das disputas comerciais. Enquanto juiz supremo de conflitos e protector das comunidades de toda a região do Rio Chiluango, era a forma escultural mais ambiciosa e monumental desenvolvida como um ponto alto na expressão do Congo. O Mangaaka inclui atributos de chefia e uma fisionomia capaz de aniquilar aqueles que desafiam a autoridade e o poder da lei. O seu descontentamento era manifestado através de dores no peito e cuspidelas de sangue. Da mesma forma, tinha o poder de curar estes males físicos literalmente e simbolicamente agudos. Ligeiramente inferior ao tamanho real, a escultura do receptáculo figurativo do Mangaaka requeria os talentos e a experiência de um mestre escultor. Devido à escala dramática da representação e à consistência da iconografia, o historiador de arte italiano Ezio Bassani propôs a dada altura que eram o trabalho de um único atelier. No entanto, o estudo aprofundado do corpus tornou evidente que estão relacionados com um único género, mas que, na verdade, representam o trabalho de vários artistas diferentes. Tal será notório ao público internacional pela primeira vez na exposição Kongo: Power and Majesty. Aproximadamente 20 destas impressionantes figuras do Mangaaka sobrevivem em colecções institucionais e privadas na Europa e nos Estados Unidos. A exposição irá proporcionar uma oportunidade sem precedentes para serem visualizadas 15 das mesmas, provenientes de instituições na Alemanha, em Itália, no Reino Unido, na Bélgica, na Suíça e nos Estados Unidos.

Ficha técnica e recursos associados

A exposição Kongo: Power and Majesty é organizada por Alisa LaGamma, a curadora da Fundação Ceil e Michael E. Pulitzer responsável pelo Departamento das Artes de África, da Oceânia e das Américas no Museu Metropolitano de Arte, com a colaboração de James Green (assistente de investigação), Christine Giuntini e Ellen Howe (restauradoras), Marco Leona, David H. Koch (cientista responsável) e Adrianna Rizzo, do Departamento de Investigação Científica, Helina Gebremedhen (estagiária universitária), Oluremi Onabanjo (voluntária) e Kristen Windmuller­ Luna, Membro do Fundo Memorial Sylvan C. Coleman e Pam Coleman, todos do Museu Metropolitano. O design da exposição é da responsabilidade de Brian Butterfield, do Departamento de Design do Museu Metropolitano.

A exposição será acompanhada por um grande catálogo publicado pelo Museu Metropolitano de Arte e distribuído pela editora Yale University Press, incluindo ensaios de Alisa LaGamma, John Thornton (professor de História Africana da Universidade de Boston), Phyllis Martin (professora jubilada de História Africana da Universidade do Indiana) e Josiah Blackmore (professor de Língua e Literatura Portuguesa da Universidade de Harvard). A publicação incorpora pesquisa original realizada no Museu Metropolitano por Ellen Howe (restauradora do Departamento de Restauro de Objectos), Adriana Rizzo e Marco Leona (cientistas investigadores do Departamento de Investigação Científica) e Christine Giuntini (restauradora de têxteis do Departamento das Artes de África, da Oceânia e das Américas).

A criação do catálogo foi possível graças à Fundação Andrew W. Mellon.

Serão fornecidos programas educacionais em conjunto com a exposição, incluindo um Domingo no Museu Metropolitano a 18 de Outubro, às 15:00, no Auditório Grace Rainey Rogers. A história e as tradições artísticas pré-coloniais do Congo no contexto das relações em evolução entre África e a Europa durante mais de meio milénio serão então examinadas por um painel. Os oradores em destaque serão o artista fotográfico Jo Ractliffe, o autor David Van Reybrouck e o bailarino-coreógrafo Faustin Linyekula. O Domingo no Museu Metropolitano incluirá também um debate e uma actuação a solo de Linyekula.

A exposição será também integrada no sítio da Web do Museu, incluindo um blogue que irá apresentar publicações semanais de vários contribuidores (designers, cientistas, músicos, historiadores e outros), oferecendo novas perspectivas sobre os temas da exposição. Entre os tópicos abordados estará o significado da linguagem corporal nas esculturas do Congo, o design da exposição, análises científicas das figuras de poder do Mangaaka e as dinâmicas de poder e género na arte do Congo.

A exposição será identificada no Facebook, lnstagram e Twitter através do hashtag #KongoPower.

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25 de Setembro de 2015

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