Desde os primórdios da história do Egito, crenças sobre a vida após a morte foram incorporadas a um gênero literário de feitiços e textos descritivos. Esses textos foram usados em sepultamentos de diversas formas ao longo dos tempos. No início do século XVIII a.C., foram escritos em pergaminhos de papiro como os que vemos aqui. Estes dois são provenientes da tumba de Nany, uma mulher baixinha e roliça que morreu com cerca de 70 anos no início da XXI Dinastia Egípcia. Em enterros típicos desta época, um papiro era depositado diretamente na múmia. Neste caso, foi o pergaminho mais curto na parte inferior. Ele contém textos de um corpus do que os antigos egípcios chamavam de "Livro do que Existe no Mundo dos Mortos". É possível ver o título em egípcio escrito na ponta direita do papiro. Os seres retratados são várias formas do deus do sol durante a sua jornada noturna através do mundo dos mortos que se alternam com imagens da múmia branca de Nany.

O papiro mais longo de Nany também fazia parte de um típico sepultamento da XXI Dinastia Egípcia. Ele foi encontrado dentro de uma figura de madeira do deus Osíris. Os seus textos foram tirados do "Livro para Sair à Luz do Dia", que geralmente chamamos de "Livro dos Mortos". E o seu objetivo era ajudar Nany a superar o julgamento final a que todo egípcio era submetido após a morte. As suas ilustrações são especialmente refinadas. Lendo da direita para a esquerda, vemos Nany declarando a sua inocência perante os deuses no salão das sentenças. No centro, entre os textos, vemos o julgamento dela, simbolizado por uma pesagem do seu coração contra uma figura de Maat, deusa da justiça e da ordem. Ao passar por isso, ela poderia aproveitar a vida diária renovada como um espírito,venerando o sol nascente, desfrutando o trabalho de campo, e fazendo a travessia em um barco para o oeste ao pôr-do-sol. A parte esquerda apresenta Nany no mundo dos mortos, durante a noite, na presença de Osíris, soberano do além e deus do renascimento e da ressurreição.